Pesquisador associa violência no futebol à realidade do País
Tema foi debatido em audiência pública conjunta, realizada na manhã desta segunda-feira (10), na ALMG.
10/11/2014 - 12:38 - Atualizado em 10/11/2014 - 14:34O pesquisador da Faculdade de Educação Física da Universidade de Campinas (Unicamp), Felipe Tavares Paes Lopes, afirmou nesta segunda-feira (10/11/14) que não há solução mágica para a questão da violência no futebol brasileiro, uma vez que o esporte é o reflexo de uma sociedade violenta. A afirmação do especialista foi feita em reunião conjunta das Comissões de Segurança Pública e de Esporte, Lazer e Juventude da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A audiência, que recebeu representantes das Polícias Civil e Militar, das empresas administradoras de estádios, Defensoria Pública e clubes, aconteceu a pedido dos deputados João Leite (PSDB), Sargento Rodrigues (PDT) e Cabo Júlio (PMDB).
Para Felipe Lopes, existem vários atores responsáveis pela violência, como torcedores, dirigentes, imprensa e as forças de segurança. Mais que isso, ele considera fatores indiretos como a falta de organização, o preço dos ingressos, os horários dos jogos e as manifestações preconceituosas das torcidas como potencializadores do problema. Dessa forma, ele defende uma política de prevenção que considere toda essa complexidade e que, a partir disso, sejam criadas comissões locais para realizar o trabalho, centros de recepção de sugestões e reclamações, além de incluir todos os atores envolvidos no cenário do futebol nas discussões. “É preciso que se criem entidades representativas de torcidas organizadas, para que elas façam parte da solução e não apenas do problema. Temos casos bem-sucedidos na Alemanha e na Colômbia, onde projetos educativos são desenvolvidos e a violência tem sido reduzida”, disse.
O coordenador do núcleo de inteligência da Secretaria de Estado de Turismo e Esportes, coronel Wilson Chagas Cardoso, reforçou as palavras do pesquisador da Unicamp, ao afirmar que a violência no futebol está vinculada à criminalidade de uma forma geral. Segundo ele, a situação envolve diversas instituições e grupos, o que torna a solução complexa. “Nossa intenção é uma só: levar segurança para o esporte e para a sociedade. Ocupamos o primeiro lugar mundial em número de mortes ligadas ao futebol porque não tem ocorrido a punição aos criminosos”, lamentou. Para ele, é preciso haver uma conscientização geral em relação à gravidade do problema e, efetivamente, o fim da impunidade.
Projetos de educação e cultura são apontados como solução
O presidente do América Mineiro, Afonso Celso Raso, lembrou que, quando foi presidente da Ademg, instituição que administrava o Mineirão, nunca houve violência grave, mesmo com grandes públicos. Em sua opinião, é necessário que se criem políticas de educação dentro e fora dos estádios. Mais que isso, ele afirmou que não se pode imputar aos mais pobres o problema da violência, até porque o futebol virou um esporte de elite, pelo preço dos ingressos, e mesmo assim a violência permanece.
O superintendente de Investigação da Policia Civil, Jeferson Botelho, concordou com o dirigente e lembrou a importância do Estatuto do Torcedor, que trata de direitos, deveres e condutas criminosas. “São necessários mais projetos de educação e cultura, para que tenhamos um País melhor fora dos estádios e que isso se reflita dentro deles”, salientou. Ele destacou que os horários inadequados, a cobertura de imprensa e a impunidade devem ser revistos, mas reforçou que a questão da violência no esporte é de responsabilidade do poder público e deve ser compartilhada com a sociedade.
O defensor público José Henrique Maia Ribeiro lamentou que os estádios, que deveriam ser espaços de lazer e diversão, vêm se tornando campos de batalha e violência. Ele também defendeu a necessidade de conscientização das pessoas para viverem em sociedade, por meio de ações educativas.
O assessor militar da Defensoria Pública, coronel Idzel Fagundes, pediu mudanças na legislação. Para ele, o modelo adotado na Europa deve ser inspiração para a organização do futebol brasileiro. Lá, segundo ele, existem, por exemplo, centros de monitoramento de torcedores perigosos, o que reduziu muito a violência nos estádios.
Administradoras dos estádios defendem ações conjuntas
O representante da Minas Arena, atual administrador do Mineirão, José Severiano Silva, falou da dificuldade em se administrar um grande volume de pessoas em poucas horas. Ele fez uma reflexão sobre por que as pessoas vão ao estádio em busca de lazer e, ainda assim, cometem atos de contravenção de vários tipos. Ao destacar a volta das famílias aos estádios, propôs um amplo debate sobre a melhor opção para todos os que gostam de futebol.
O gerente de instalações esportivas da Minas Arena, coronel Sandro Teatini, afirmou que são realizadas, em parceria com as Polícias Civil e Militar, análises de risco dos jogos, para que a segurança particular do estádio possa atuar. “Nosso objetivo é receber bem e oferecer conforto e lazer às pessoas, mas as ações conjuntas são fundamentais”, ponderou.
O gerente operacional da BWA – Administração de Arenas, responsável pelo Independência, Helber Gurgel Carneiro, reforçou que é impossível estabelecer uma situação de segurança nos estádios sem que todos os envolvidos participem de um planejamento prévio. Para ele, o imprevisível é a vontade dos torcedores, principalmente aqueles que saem de casa dispostos a praticar crimes. “Temos equipamentos modernos e confortáveis, mas não se pode prever a ação individual dos que vão aos jogos”, alertou. Ele ainda defendeu o aumento nos preços dos ingressos para que se mantenha a qualidade dos estádios e o fim da impunidade.
Prevenção e punição – O deputado Sargento Rodrigues disse que a violência nos estádios preocupa toda a sociedade. Dessa forma, ele entende ser preciso trabalhar de forma preventiva, por meio de um planejamento de segurança, que garanta a tranquilidade de quem vai ao estádio, de quem vive no entorno das arenas e das famílias daqueles que frequentam os jogos. Ele ainda apresentou um vídeo dos incidentes ocorridos na partida entre Atlético Paranaense e Vasco, realizada em Santa Catarina em 2013, quando foram registradas cenas de extrema violência.
O deputado João Leite (PSDB) pediu dura punição para os envolvidos em brigas, alegando que apenas proibir torcedores violentos de frequentar estádios não é o suficiente. Para ele, é preciso uma sanção penal para essas pessoas. “Convivemos com estádios sem segurança, mas o grande problema acontece no entorno das arenas ou em outras áreas das cidades em dias de jogos”, analisou. Ao final da reunião, lembrou que, no dia 24 de novembro, acontece na ALMG o Ciclo de Debates Muda Futebol Brasileiro – Desafios de uma Renovação, quando a violência nos estádios será, mais uma vez, abordada.