O documentário foi apresentado com a presença de personagens que participaram da gravação: Antônio Romanelli e Maria Eliza Linhares Borges

Governador Valadares antecipou o golpe militar de 1964

Documentário da TV Assembleia narra episódio pouco conhecido envolvendo invasão de sindicato e destruição de jornal.

01/04/2014 - 20:53

Dois dias antes do golpe militar que se instalou no Brasil em 1964, o município mineiro de Governador Valadares (Vale do Rio Doce) testemunhou um episódio de violência e desmando com a invasão do Sindicato dos Lavradores local por milícias armadas a serviço de latifundiários. À invasão, seguiu-se o empastelamento do jornal “O Combate” e a perseguição ao líder sindical camponês Francisco Raimundo Paixão, o Chicão, e do jornalista Carlos Olavo da Cunha Pereira, antecipando a sangrenta ditadura que perdurou por 21 anos no País.

Esses fatos são narrados no documentário “Na Lei ou na Marra – um Combate Antes do Golpe”, produzido pela TV Assembleia e apresentado nesta terça-feira (1º/4/14), no Teatro da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), com a presença de dois personagens que participaram da gravação: o fundador das Ligas Camponesas de Minas Gerais e atual presidente da Comissão da Verdade no Estado, Antônio Romanelli, e a historiadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maria Eliza Linhares Borges.

Debate - Após a apresentação do vídeo, os dois foram convidados a participar de um debate sobre os fatos históricos que culminaram no golpe militar de 1964. Depois de cumprimentar a equipe da TV Assembleia, responsável pela produção do documentário, Romanelli observou que “a memória não é só um direito da gente, é um dever também”. Em seguida, esclareceu que, embora fundador e primeiro presidente da Liga Camponesa de Minas Gerais, na verdade nunca foi lavrador, mas atuava como advogado dos menos favorecidos e ajudou os trabalhadores rurais de Minas a se organizarem, sendo, por isso, eleito por eles para o comando da entidade, mais tarde transformada em sindicato, durante o Governo João Goulart.

A professora Maria Eliza, por sua vez, também cumprimentou a Assembleia pelo evento e focou seu discurso sobre a questão da luta pela terra no Brasil, lembrando que os censos do IBGE, entre os anos de 1960 e 1980, revelam um êxodo rural sem precedentes, quando 28 milhões de trabalhadores rurais sem terra deixaram o campo rumo à cidade. Segundo ela, grande parte da violência e do medo que se vive hoje nas grandes cidades e do crescimento urbano desordenado se deve ao fato de não se ter realizado no Brasil a reforma agrária, “nem mesmo uma reforma agrária capitalista, como tantos países fizeram”, disse.

Programação - O documentário “Na Lei ou na Marra – um combate antes do golpe” integra o conjunto de atividades que o Parlamento mineiro preparou para este ano, a fim de relembrar os 50 anos da tomada do poder pelos militares e a substituição de uma então efervescente democracia pela ditadura militar que perdurou por 21 anos. O vídeo estará disponível no Portal da ALMG já a partir desta quarta-feira (2).

A programação inclui o Ciclo de Debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais - Os 50 Anos do Golpe de 64, realizado nesta segunda e terça-feiras (31/3 e 1º/4), no Plenário, e a exposição “1964-1985 - A subversão do esquecimento”. Inaugurada na segunda-feira (31), a mostra pode ser vista na Galeria de Arte da ALMG até o dia 30 deste mês. O objetivo, segundo os organizadores, é relembrar, para que nunca mais se repita, um dos períodos mais tristes da história brasileira recente: a ditadura militar. No Portal da ALMG também foram publicadas reportagens especiais sobre este importante período histórico.